segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A dificuldade de equilibrar o discurso com a prática


Coerência é uma ação difícil. Eu comecei a pensar sobre isso quando estava na faculdade, espaço perfeito para se dizer coisas e praticar outras (total incoerência!). Discutíamos relação de classes, marxismo, indústria cultural e muitas das pessoas que se destacavam nos debates hoje em dia trabalham em ou para grandes corporações/interesses que eram alvo de suas críticas naquele momento.


A todo o momento nossa coerência é testada. Eu sinto isso na pele, porque defender interesses coletivos exige compreender o que é importante para todas as pessoas, e não só pra mim. Quando defendemos a preservação da Floresta Urbana Água Comprida é lógico que eu tento me colocar no lugar dos proprietários, mas também penso em como foi todo o procedimento até se chegar a situação atual e quais os interesses (sobre isso vou escrever especificamente no post do VidÁgua&Floresta, confiram (http://www.vidaguaefloresta.blogspot.com/).


A coerência do movimento ambientalista está em xeque nos últimos tempos. Muitos militantes do movimento integram o governo federal nestas duas últimas gestões. Colocar pessoas de peso em posições estratégicas enfraquece as reivindicações de qualquer movimento. Como contestar um ícone como a Marina Silva? Por isso, penso que ela tomou a atitude certa ao sair do governo, demonstrou coerência. Cansou de ser escudo de uma política desenvolvimentista, muito parecida com o governo militar, mas travestida de proposta democrática (estou falando especificamente das questões ambientais!).


Carlos Minc, atual Ministro do Meio Ambiente, foi grande militante na década de 70, coordenando a luta antinuclear no Rio de Janeiro. Se naquela época alguém dissesse que esse mesmo líder ambientalista assinaria uma licença ambiental de Angra 3, provavelmente seria tachado de louco. Pois é, isso está acontecendo, exatamente em 2008. Assim como a licença para as hidrelétricas no Rio Madeira. O Minc abriu uma plenária do Conselho Nacional do Meio Ambiente, na qual eu estava presente, com um discurso de que os servidores de carreira deveriam ser valorizados. Nesta mesma reunião, o presidente do IBAMA, sr Roberto Messias, disse que apesar do relatório dos técnicos daquele órgão dizer que haverá uma HECATOMBE na Amazônia com a construção das usinas, a obra era necessária e a licença seria dada.


Manter a coerência é difícil, mas mais difícil ainda é conviver com as contradições que pululam em nossas cabeças a cada incoerência cometida...

Um comentário:

ELSON TEIXEIRA CARDOSO disse...

UHU!! Pois este blog é o reflexo de sua inteligência, um "point" onde jorram seus pensamentos críticos, com um viés poético. Excelente esta crônica.

PS: Sua foto é o equilíbrio da inteligência, coerência e beleza. Face iluminada pelo sol e acariciada pelo vento.